segunda-feira, 5 de maio de 2008

Os corações puros e transparentes

Os corações puros possuem uma energia admirável. Eles dominam a linguagem do bem-querer, da fraternidade e da partilha. Eles conhecem o sabor da liberdade que traz o amor incondicional, o desapego material, de status ou de poder. Eles acreditam nas pessoas, têm fé na mudança do ser humano, confiam nas boas intenções.

«Ingenuidade» é uma palavra fácil de utilizar para classificar aqueles que assim encaram o mundo. Permitam-me discordar. Essa energia de canalizar as suas projecções mentais para o melhor que as pessoas têm denota uma força notável.

Ingenuidade é pensar que os portadores dessa postura face à humanidade se fragilizam. Com medo de se magoar o Homem constrói muros e bunkers à sua volta. Protege-se com a desconfiança, plantando o sentimento de perigo iminente. E, em variados casos, antes que seja apunhalado, semeia uma renovada traição, agindo com uma jogada de antecipação. Assim as pessoas vão-se magoando mutuamente.

Qual das formas de encarar o mundo fragiliza mais: a do coração puro e transparente que se dá sem reservas ou a do coração opaco e gotejante que vai dando cautelosamente e na medida do conta-gotas, podendo retroceder no momento de apertar a bolha de ar?

Os corações puros e transparentes não desperdiçam as suas energias no cálculo do quanto dar. Simplesmente dão! Para além de receberem em troca a mesma generosidade, abrem as portas do melhor que cada um tem. E assim se vão nutrindo mutuamente. Naturalmente encontram-se e lidam com corações opacos e gotejantes. O contacto das diferentes linguagens pode provocar ruídos na comunicação e mal-entendidos. Códigos dissemelhantes podem abrir feridas. No entanto, os que se deram sem medida, sem medos e sem truques possuem a grande vantagem de conhecer a força inquebrável do alimento nutritivo e inesgotável do amor livre! Também acredito que semeiam nos demais a dúvida: de que, eventualmente, vale a pena viver o risco de pedir emprestadas essas asas libertadoras. Pois quem se dá livremente, independentemente dos escolhos que vai encontrando, estará sempre acompanhado do elixir mais poderoso que existe: o do amor sem medidas.

Chamem-me ingénua, romântica ou incauta. Só sei que por mais ruídos de comunicação que vou encontrando com as almas gotejantes e cerradas, vou alicerçando as fundações da ponte que me leva em rumo da grande realização pessoal, amando os corações mais pingantes.