quinta-feira, 15 de março de 2007

A solidão


Muitos de nós vemos com medo o facto de se estar só. Só em casa, só a tomar uma refeição, só em férias, só sem um/a companheira/o...

A solidão é como uma bola de algodão doce. Se formos prová-la é doce e de seguida desaparece na boca. Pega-se aos dedos e temos dificuldade em fazer desaparecer essa pegosidade.

É, antes de tudo, artificial porque nós não estamos sós. Contamos com a nossa companhia, a companhia da nossa pessoa. Sem nos darmos conta passamos a vida a fugir da nossa companhia. Fazemos de tudo para não a enfrentarmos: passamos o tempo em frente ao televisor, ouvimos música (muitas vezes as duas coisas ao mesmo tempo), sentamo-nos em frente ao computador horas a fio, temos conversas sobre temas sem qualquer relevância (como a vida alheia ou outras superficialidades), vamos ao shopping, trabalhamos mais do que deveríamos,..., etc, etc, etc. Enfim, inventamos infinitas formas de evitarmos estar em silêncio. Quando não temos nada para fazer entramos em pânico e sentimos uma tristeza enorme. A solução imediata que encontramos é ligar de novo a TV, o rádio ou telefonar a um amigo para sair. Ouço amiúde o comentário de gente a dizer que detesta ficar só, que teme a solidão. Como podemos desejar que os outros apreciem a nossa companhia se nós somos os primeiros a temê-la?!

A solidão pega-se aos dedos e fica pegajosa (como o algodão doce), porque ao evitarmos estar sós vamos de encontro a outros seres humanos que se encontram exactamente nessa onda energética. E assim vamos colando-nos uns aos outros para não nos sentirmos sós e não porque intrinsecamente queremos dar e receber, de forma a crescermos, sermos melhores para connosco e com os outros.

E porque é a solidão doce e desaparece de seguida na boca? Porque quem experimenta o prazer da sua companhia percebe que não está só. Por isso a sensação de solidão desaparece. Percebemos a beleza de estar só, de olharmos para dentro de nós, de amarmos quem somos. Para isso, em primeiro lugar temos de aprender a perdoar os erros que cometemos e de seguida lançar as bases para que não voltemos a cometer as mesmas falhas. Torna-se fácil se, por exemplo, conseguirmos rir das nossas falhas. Em cada uma delas há um humor escondido. Soltar gargalhadas dessas falhas ajudará a tornar o erro em algo menos pesado e sério.

Sabendo perdoar os erros e manter a mente atenta para não os voltar a cometer estamos preparados para começar a subir a escada da auto-superação. Estando a nossa mente direccionada no constante crescimento e desenvolvimento haverá lugar para nos sentirmos sós?

Existem infinitas formas de nos divertirmos com a nossa companhia. Partilho contigo uma delas. Experimenta-a!!!!!!!!!!

Põe-te a escutar a canção/música preferida. Fecha os olhos e solta todos os músculos do teu corpo. Vai seguindo o ritmo da música e deixa que, sem qualquer esforço, o teu corpo tome o comando. Deixa-te levar pela música, deixa o teu corpo fluir com a melodia. Lembra-te que que ninguém te está a ver. Sente a música vibrar nos teus pés. Sente a tua pele vibrar igualmente, sente como se vai refrescando pelo suor que vai saindo pelos seus poros. Liberta-te completamente e fica ai a usufruir dessas sensações o tempo que te apetecer.

Existem muitas outras formas de usufruir da beleza de estar só. Cada um encontra aquelas que mais lhe agrada. É claro que existirão sempre momentos de solidão. Fazem parte da condição humana. São momentos muito importantes do nosso crescimento pessoal. Se sentires uma dor muito forte que parece não querer desaparecer, consumindo o ar que respiras fala com os teus anjos. Dirige-lhes a palavra. Pede-lhes um abraço.

5 comentários:

Unknown disse...

Olá querida Sónia, mais uma vez um texto cheio de sentido.Só quando estamos SÓS, conseguimos entrar dentro de nós e enfrentamos os n/ medos, domamos o n/ ego, e encontramos a tranquilidade que nos traz a felicidade de estarmos sós, e sermos nós mesmos.Um abraço cheio de feliz solidão!

Anónimo disse...

Há semanas que passeio por este blog. É engraçado ler este último texto numa altura da vida em que os melhores momentos são aqueles em que consigo desligar, cortar os canais com o mundo e ficar só... comigo mesma.
Às vezes rio-me de mim (ou comigo) dessa forma, que tão bem conheço, de me divertir, de estar na minha companhia... é engraçado saber que não sou só eu a fazê-lo :) mas tenho outras... várias!!

Um abraço,
b.

Anónimo disse...

"(...)
Na profundidade do que sustenta
As raízes de um fogo que alimenta
Esse amor que não se despoetiza,

Só a saudade traz o real valor
Trazendo à superfície pela dor
Um sentimento que já não cicatriza."

Ainda bem que encontraste os teus anjos...
Ainda bem que te reencontrei...
Continua a escrever esse teu poema lindo que é a tua vida...

Anónimo disse...

Olá Sónia, saudações juvenis desta tua amiga que, embora tenha andado silenciosa, não te esquece.
Obrigada por partilhares comigo a tua sempre tão magnífica e feliz experiência. É bom saber que continuas a fazer aquilo de que gostas: esse tão grandioso trabalho que é o de apoiar a vida humana!
Ainda bem que existem pessoas como tu!
Um grande abraço e muitas saudades!
Paula Cardoso

Anónimo disse...

Olá Sónia, vejo que estás muito Zen, e estás muito bem! ;-) beijo grande